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Together - Seleção Sundance Midnight

  • Fernando Gomes
  • 15 de fev.
  • 3 min de leitura



O primeiro filme a ser negociado em Sundance também foi aquele que extraiu as maiores reações de público em todas as exibições que participei. Um equilíbrio memorável entre drama, terror e humor transformou Together em um sucesso instantâneo de público e crítica.

Dirigido por Michael Shanks, o longa evita recair no “terror elevado” que domina as grandes produtoras e opta por algo mais direto e visceral. Ele não se apoia em jumpscares, mas sim no body horror, evocando o trabalho de David Cronenberg ou de A Substância, em vez de referências como O Exorcista ou A Entidade. Há momentos de tensão e sustos pontuais, mas o que torna Together tão cativante é a forma como quebra o ritmo com humor preciso e a construção dramática do casal protagonista.


Acompanhamos Tim (Dave Franco) e Millie (Alison Brie), um casal metropolitano prestes a se mudar para o interior. Ambos têm ambições e ideias diferentes sobre o futuro, e a pressão para o casamento cresce exponencialmente. Millie é uma professora com uma carreira definida, que valoriza segurança e estabilidade, enquanto Tim é um músico que nunca deslanchou, mas se recusa a abandonar seu sonho — apesar de nunca se esforçar de fato para realizá-lo.

O desgaste na relação se intensifica com a crescente co-dependência de Tim, e um ressentimento surge entre os dois à medida que ambos sentem sua liberdade cerceada. Millie já se vê sexualmente frustrada pelo afastamento e emocionalmente sobrecarregada por ter que agir como mãe de Tim. Ele, por sua vez, se frustra por nunca ter construído a vida que queria e, agora, ser forçado a aceitar a de Millie.

A mudança para o interior promete um novo começo. Durante uma trilha para explorar a região, os dois caem em uma caverna durante uma tempestade. Logo após o ocorrido, eventos macabros começam a acontecer: eles se sentem magneticamente atraídos um pelo outro, mas, pior do que isso, toda vez que se tocam, começam a se fundir em uma única pessoa.

A alegoria do filme gira em torno da toxicidade dos relacionamentos co-dependentes e das pressões sociais em torno do casamento. A premissa ressoa com o mito da “outra metade” de Platão, que dizia que os humanos já possuíram quatro pernas, quatro braços e duas cabeças, mas foram divididos pelos deuses do Olimpo por medo de seu poder, condenados a vagar pelo mundo em busca de sua metade perdida. O roteiro extrapola essa ideia para algo inevitável e assustador, evidenciando as consequências da perda de individualidade.

A conclusão do filme, embora coerente, se perde um pouco na necessidade de se encaixar nos moldes de um terror tradicional. Isso compromete um pouco da competência narrativa construída até então, mas sem diluir a força da mensagem. No fim, fica a reflexão: onde está a linha entre a entrega genuína e a co-dependência? O tema, relativamente inexplorado no gênero, brilha pela originalidade e pelo tratamento criativo.

A química entre Alison Brie e Dave Franco, um casal na vida real, fortalece cada nuance emocional — desde a intimidade e o carinho até o ressentimento, a culpa e o desespero. A atuação naturalista e a dinâmica entre os dois potencializam a experiência. No entanto, o que faz Together se destacar é o equilíbrio sublime entre terror, drama e romance, tornando-o não apenas um dos filmes mais memoráveis do festival, mas também um dos meus favoritos.


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