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Sweet Talkin' Guy - Seleção Oficial de Sundance Curta Metragem

  • Fernando Gomes
  • 22 de jan.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 23 de jan.


Cortesia do Instituto de Sundance


Sweet Talkin’ Guy é um curta-metragem que retrata um discurso recorrente na vida amorosa da protagonista, co-diretora e co-roteirista Miss Dylan Wardwell, uma mulher transexual que já ouviu diversas vezes o mesmo tipo de racionalização de homens supostamente heterossexuais para justificar sua atração por ela. Em apenas cinco minutos, transitamos entre três homens vastamente diferentes, que apresentam o mesmo viés cognitivo e gradativamente começam a expor suas inseguranças e fragilidades mascaradas de progresso e aceitação.


O texto do curta transborda honestidade e realismo, porque é nitidamente algo que Miss Dylan já escutou em infinitas variações ao longo dos anos. Tudo aponta, no fim, para a mesma conclusão: esses homens têm medo de admitir para si mesmos o que lhes atrai. Isso é capturado com bastante clareza na cena em que um deles encontra a protagonista em um aplicativo de relacionamento e instantaneamente abre um sorriso. Logo depois, os três homens agradecem à protagonista por aceitar sair em um encontro com eles. O que se segue são elogios que escondem microagressões e tentativas forçadas de justificar seus desejos para si mesmos, numa mistura de tesão, vergonha e tabu que, no fim, sucumbe ao desejo.

Cortesia do Instituto de Sundance


Uma das coisas mais engraçadas é como a necessidade dos homens de expressar naturalidade nessas interações tem justamente o efeito contrário: tornar os momentos de intimidade artificiais. Ao colocar três homens recitando o mesmo monólogo, separados por match cuts sonoros, Spencer Wardwell e Miss Dylan Wardwell deixam explícito o quão comuns são as desculpas e microofensas perpetuadas. Já a protagonista, que nunca muda, parece representar a universalidade da experiência de pessoas trans no mundo dos relacionamentos.


E é com a ótima e verossímil performance de Miss Dylan que o curta ganha força. É algo tão íntimo e pessoal para ela que, às vezes, parece que a câmera nem está ali de verdade e que temos vislumbres de interações reais da vida dela. Apenas com expressões faciais, sorrisos que comunicam “já ouvi isso antes” e olhares que dizem “você está tentando se convencer ou me convencer disso?”, ela diz muito mais do que os homens.


A dupla de diretores também entende bastante o uso de espaço nas cenas para introduzir Miss Dylan, mas o que chama mais atenção é o uso deliberado de vermelho e amarelo — cores que representam paixão, desejo, otimismo e esperança, comunicando uma vontade de ver essas dinâmicas evoluírem para algo melhor. Em contrapartida, os homens vestem tons terrosos e uma paleta de cores neutra, refletindo a supressão dos próprios desejos.


Curto e incisivo, Sweet Talkin’ Guy carrega consigo um debate gigantesco sobre sexualidade reprimida, desejo e como muitos homens héteros só o são porque não se libertaram das pressões sociais que nossa protagonista, por exemplo, já superou. Tudo isso é entregue com honestidade, um senso de humor fantástico e uma cena final tão hilária e inteligente que parece impossível encontrar uma forma melhor de encerrar este curta.

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